“São as palavras dos cidadãos que representam a nossa maior esperança. (…) Não apenas com os votos que emitimos, mas com as vozes que levantamos em defesa de nossos valores mais antigos e ideais duradouros”.
Sim, a importância das vozes, dos discursos, é perceptível em cada fala de Barack Obama. Sensíveis, diretos, emocionantes e acessíveis, seus discursos marcaram época e fazem com que diversos especialistas em Comunicação considerem o ex-presidente norte-americano como um dos maiores speakers contemporâneos – senão o maior.
Analisar os discursos de Obama – e sua oratória como um todo – é uma forma de compreender os motivos pelos quais são tão eficientes e inspiradores. Além disso, é uma ferramenta para conhecer técnicas que podem ser aplicadas em nossa própria comunicação.
Vejamos, então, o que faz da oratória de Obama uma das melhores dos últimos tempos:
Pausas
As pausas são traços marcantes da comunicação de Obama. Em seus discursos, apresentações e pronunciamentos, ele costuma usar os “silêncios ativos”, isto é, pausas estratégicas entre um tópico e outro.
Na comunicação, os silêncios podem cumprir uma série de funções, tais como:
- Aumentar a emotividade em um trecho
- Ressaltar uma ideia
- Permitir que a audiência assimile uma informação, antes que uma nova seja apresentada
- Permitir que o próprio comunicador decida como seguir com seu raciocínio
As pausas de Obama estão diretamente relacionadas à autoconfiança. Ele não tem “vergonha” de incluir esses silêncios e, ao contrário, demonstra, através deles, que a sua fala é minuciosamente pensada, que tudo o que diz é consciente.
Não é raro ver comunicadores utilizando algumas expressões, como “hum”, “é”, “aí” e tantas outras. Essas palavras – que são vícios de linguagem – poderiam ser substituídas pelas pausas, com um resultado incomparavelmente melhor.
Repetições
A repetição é uma técnica muito utilizada por grandes comunicadores, como Martin Luther King e, claro, o próprio Obama:
Podemos reconhecer que a opressão sempre conviverá conosco e, mesmo assim, lutar pela justiça. Podemos admitir a incorrigibilidade da pobreza e, ainda assim, lutar por dignidade. Podemos compreender que haverá guerra e, ainda assim, lutar pela paz.
Note, Speaker, que a repetição utilizada por Obama no trecho acima – e muito reaplicada em outras falas do ex-presidente – não é apenas usar a mesma palavra repetidas vezes. Mais que isso, é repetir toda uma estrutura: “Podemos reconhecer… e, mesmo assim, …”.
Qual o sentido das repetições? Elas:
- Destacam uma ideia
- Reforçam um argumento
- Explicitam a sequência lógica utilizada
- Aumentam os níveis de emotividade
Incluir as repetições nas falas é, portanto, uma estratégia eficiente em vários sentidos.
Sequência lógica
Os discursos de Barack Obama são conhecidos por sua acessibilidade, isto é, eles podem ser compreendidos por praticamente todos os públicos. Essa acessibilidade tem a ver com uma série de fatores, que vão desde a linguagem utilizada por Obama (que é simples e direta) até a organização da fala.
Em outras palavras, os discursos de Obama têm uma sequência lógica. Seja qual for o assunto abordado e o contexto no qual se encontra, o conteúdo é transmitido de uma forma em que tudo está interligado entre si. Em suma, ele sempre conta uma história, com começo, meio e fim.
Planejar o conteúdo com antecedência, organizando-o de tal modo que tenha uma sequência lógica é fundamental – e não apenas para o presidente dos Estados Unidos, mas para todas as pessoas em situação de exposição de fala.
Adaptação ao público-alvo
Outra razão pela qual os discursos de Obama são tão eficientes no seu propósito é que o ex-presidente dialoga diretamente com o seu público, adaptando o conteúdo (e, até mesmo, a forma de transmiti-lo) de acordo com o perfil da sua audiência.
Essa é uma grande ferramenta para comunicadores. Conhecer, ainda que minimamente, as principais características do público é o caminho mais eficaz para encontrar estratégias para dialogar e, principalmente, inspirar as pessoas que dele fazem parte. É um modo, ainda, de aproximar da audiência e criar com ela uma relação de empatia e liderança.
Expressividade
A expressividade de Obama é um dos traços chamativos de sua comunicação e isso acontece em um universo no qual ainda há uma certa apologia à “máscara da neutralidade”. Isto é, onde políticos e autoridades adotam um semblante neutro em suas falas e aparições públicas.
Obama é expressivo em seus gestos: não acontecem em excesso, nem são tímidos, mas estão em harmonia com o que está sendo dito. É expressivo nos sorrisos e no olhar. É expressivo ao manter contato visual com as pessoas da audiência.
Em um pequeno trecho do seu discurso de despedida, é fácil notar toda essa expressividade e o seu alto grau de eficácia:
Se repararmos bem, veremos que a expressividade de Obama também está refletida em sua voz. Ele altera conscientemente o tom no qual se comunica, fala em um ritmo confortável e com uma clareza típica de bons comunicadores.
Não é à toa que Barack Obama é reconhecido como um dos principais comunicadores dos tempos contemporâneos. Por tudo o que vimos até aqui, nota-se que ele tem desenvolvidos os três pilares de uma boa comunicação: o conteúdo, a expressão vocal e a expressão corporal.
Mais do que um político, Obama se comunica como um líder. E essa diferença é o que faz da sua oratória um marco e uma inspiração para nós, comunicadores.